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O Racismo Presente Nas Músicas Sobre O Titanic

No final dos anos 1960, a explosão da popularidade do rádio FM underground permitiu a transmissão de canções de uma duração que antes era inimaginável no rock (e, na maior parte, no folk). O (Alice’s Restaurant Massacree) de 18 minutos de Arlo Guthrie, mais popularmente conhecido simplesmente como (Alice’s Restaurant) pode ter sido o mais conhecido deles, seguindo um formato folk-blues solto e falante para retratar um divertido cachorro peludo de uma história.

Um pouco menos lembrado, embora também um grande favorito da FM em sua época, é (Legend of the U.S. Titanic) de Jaime Brockett, de 13 minutos. Como o (Alice’s Restaurant), também seguia um formato folk-blues falante e trazia referências contraculturais conhecidas. Ao contrário de Guthrie, no entanto, Brockett foi incapaz de desenvolver sua maratona de monólogo para sustentar uma longa carreira como artista musical. Na verdade, (Legend of the U.S.S. Titanic) nem era muito típico de seu trabalho, o resto de seu álbum de estreia inclinado para baladas folk introspectivas. Foi (Legend of the U.S.S. Titanic), no entanto, que a maioria dos ouvintes comprou o LP.

A música faz referência a Jack Johson, um boxeador americano que entrou para história ao ter se tornado o primeiro boxeador negro campeão mundial dos pesos-pesados, título este que foi conquistado em 1908 e mantido até 1915. A letra conta que Jack embarcaria no Titanic, mas teria sido impedido por um dos oficiais por conta de sua cor de pele.

No entanto, a história não é verdadeira. Em abril de 1912, quando o Titanic zarpou, Johnson estava nos Estados Unidos, provavelmente em sua cidade natal, Chicago, tentando arranjar uma luta pelo título naquele verão e se preparando para abrir sua boate lá, o Café de Champion, que abriu em julho. Johnson havia passado o outono anterior na Inglaterra e na França lutando em partidas de exibição, mas retornou a Nova York pouco antes do Natal de 1911 a bordo do navio Lloyd Kronprinzesen Cecille.

Poucos dias depois do naufrágio do Titanic, ele anunciou uma luta com Jim Flynn. Isso aconteceu em Las Vegas em 4 de julho de 1912. Sua biografia não menciona nenhum problema em conseguir uma vaga em navios no White Star ou qualquer outra linha, como também foi mencionado na letra da canção de blues (The Titanic), de Lead Belly.

Ambos os artistas provavelmente escolheram a figura de Jack Johson que na época estava em seu auge para representar em suas composições o racismo que os negros sofriam na época de forma muito mais intensificada e escancarada.

Até o momento não se tem registros se de fato algum passageiro no Titanic foi vítima de racismo ou qualquer outro tipo de discriminação, mas infelizmente não seria algo de se espantar uma vez que desde o inicio das grandes navegações e a escravização de negros na África, esse olhar de superioridade e inferioridade racial se tornou muito presente entre a burguesia europeia principalmente a partir do século XIX. O Titanic sendo uma representação marcante do que era a sociedade naquela época, é muito provável que situações infelizes como essas ocorreram inúmeras vezes dentro e fora do navio já começando pela segregação dura que existia entre as classes sociais.

Mesmo após 100 anos, a luta dos menos favorecidos dentro do (Capetalismo) persiste. É claro que evoluímos muito desde 1912, mas a herança discriminatória da escravidão (todas as relações com base na ideia de inferioridade dos negros que foram transmitidas) em conjunto com a falta de medidas e ações que integrassem os negros e indígenas na sociedade, como políticas de assistência social ou de inclusão racial no mercado de trabalho, gerou o que se entende por racismo estrutural, ou seja, uma discriminação racial enraizada na sociedade.

Isto é, o racismo estrutural não diz respeito ao ato discriminatório isolado (como xingar pejorativamente alguém por conta da cor da sua pele) ou até mesmo um conjunto de atos dessa natureza.

Ele representa um processo histórico em que condições de desvantagens e privilégios a determinados grupos étnico-raciais são reproduzidos nos âmbitos políticos, econômicos, culturais e até mesmo nas relações cotidianas. Para entender mais sobre o assunto eu recomendo a leitura do livro (Levanta Favela, Vamos Descolonizar o Brasil) da autora Flávia Pinto.

Música (Legend of the U.S. Titanic): https://www.youtube.com/watch?v=4XFYMjkFYPg
Tradução da letra (Legend of the U.S. Titanic): https://genius.com/Jamie-brockett-legend-of-the-uss-titanic-lyrics
Música e tradução da letra (The Titanic): https://www.encyclopedia-titanica.org/leadbelly-titanic.html

29102021

Joseph Laroch o Único Passageiro Negro Do Titanic

O Sr. Joseph Philippe Lemercier Laroche nasceu em Cap Haitien, Haiti, em 26 de maio de 1886. Em 1901, aos 15 anos, ele deixou o Haiti e viajou para Beauvais, França, onde esperava ingressar no colégio para estudar engenharia.
Enquanto visitava a cidade vizinha de Villejuif, Joseph conheceu a Srta. Juliette Lafargue; Depois que Joseph se formou, ele e Juliette se casaram em março de 1908. Sua filha Simonne nasceu em 19 de fevereiro de 1909; uma segunda filha, Louise, nasceu prematuramente em 2 de julho de 1910 e sofreu muitos problemas médicos subsequentes.

A discriminação racial impediu Joseph Laroche de obter um emprego bem remunerado na França. Como a família precisava de mais dinheiro para pagar as contas médicas de Louise, Joseph decidiu voltar ao Haiti para encontrar um emprego de engenharia com melhor remuneração, sendo a mudança planejada para 1913.

Em março de 1912, no entanto, Juliette descobriu que estava grávida, então ela e Joseph decidiram partir para o Haiti antes que sua gravidez ficasse muito avançada para viajar. A mãe de Joseph no Haiti comprou para eles passagens de navio a vapor no La France como um presente de boas-vindas, mas a política rígida da linha em relação a crianças fez com que eles transferissem sua reserva para a segunda classe do Titanic. Então, em 10 de abril, a família Laroche pegou o trem de Paris para Cherbourg para embarcar no novo transatlântico mais tarde naquela noite.

Na madrugada de 15 de abril, depois que o Titanic bateu em um iceberg e ficou claro que o navio estava afundando, Joseph Laroche agiu de forma rápida e decisiva. No quarto deles, ele colocou dinheiro e jóias nos bolsos do casaco e levou a família para o convés do navio.

Enquanto escoltava sua família até o barco salva-vidas, Joseph pegou sua jaqueta, envolveu Julieta e disse a ela:
(Aqui, pegue isto; você vai precisar. Vou pegar outro barco. Deus vá com você! Vejo você em Nova York.) Essas foram as últimas palavras que ele disse à família.

Joseph – que se acredita ter sido o único passageiro negro do Titanic – morreu no naufrágio e seu corpo nunca foi recuperado, mas sua família foi salva, em cujo barco salva-vidas não é certo (possivelmente 10).

Mais tarde na manhã de 15 de abril, Juliette e suas filhas foram resgatadas pelo RMS Carpathia. As duas jovens irmãs foram içadas até o convés do navio em sacos de pano. A bordo do Carpathia, Juliette achou muito difícil conseguir lençóis que ela poderia usar como fraldas para suas filhas. Como não havia nada que pudesse ser usado, Juliette improvisou e, no final de cada refeição, sentava-se com guardanapos, escondia-os e fazia fraldas depois de retornar à cabine.

O Carpathia chegou em Nova Iorque em 18 de abril. Como não havia ninguém que recebesse Juliette e suas filhas, ela decidiu não continuar no Haiti. Em vez disso, ela voltou para sua família em Villejuif, França. A família chegou ao local no mês seguinte e foi lá que Juliette deu à luz o terceiro filho de nome Joseph, em homenagem ao seu falecido marido.

Anos depois, em março de 1995, Louise subiu a bordo do SS Nomadic pela primeira vez desde 1912 quando este a carregou e sua família para o Titanic do porto de Cherbourg. Estava junto de outra sobrevivente do Titanic, Millvina Dean. Naquele mesmo ano, Louise estava presente no Titanic Historical Society celebrando os passageiros do Titanic que partiram daquele porto.

Louise Laroche morreu em 28 de janeiro de 1998 aos 87 anos de idade. Sua morte deixou na época oito passageiros vivos remanescentes do Titanic.

Referências:
https://www.encyclopedia-titanica.org/titanic-victim/joseph-laroche.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Philippe_Lemercier_Laroche