Violet Jessop nasceu no dia 2 de outubro de 1887 perto de Bahía Blanca, no sul da província de Buenos Aires. Seus pais eram irlandeses que chegaram à Argentina em uma onda imigratória no final do século XIX. Após o falecimento de seu pai, a família foi morar na Inglaterra onde Violet conseguiu trabalho como camareira na companhia de navegação Royal Mail Line.
Sua primeira viagem foi a bordo do RMS Olympic, na época, o maior transatlântico que existia. No percurso, a embarcação colidiu com o navio de guerra britânico HMS Hawke, em 20 de setembro de 1911. Apesar do acidente, o Olympic conseguiu terminar o trajeto e voltou ao porto. Sobre o quase naufrágio, Jessop não comentou a experiência em seu livro de memórias, Sobrevivente Do Titanic, lançado em 1998.
No ano posterior, Violet foi escalada para trabalhar no icônico Titanic. O que era para ser uma das maiores viagens da história, por todas as expectativas criadas em torno da enorme construção, acabou sendo um caso de vida ou morte para a camareira.
Jessop contou em sua obra que enquanto o navio afundava ela foi usada de exemplo de um bom comportamento para os que não falavam em inglês pela equipe de segurança.
“ Me mandaram ir para o convés. Os passageiros passeavam tranquilos. Eu e as outras camareiras observamos como as mulheres se agarravam a seus maridos antes de serem colocadas nos botes salva vidas com os filhos “, afirmou.
” Algum tempo depois, um oficial ordenou que nós entrássemos no bote número 16 para mostrar às mulheres que era seguro “.
Antes que o Titanic fosse completamente engolido pelo oceano, a camareira foi colocada em um dos botes salva-vidas, e um e um bebê desconhecido foi entregue em seus braços.
Passou a madrugada à deriva no mar, até que, na manhã seguinte, o RMS Carpathia a resgatou. Já nesta embarcação, uma mulher que ela assumiu ser a mãe da criança, levou-a embora sem dizer nada.
Sua vida seguiu tranquila, até que a Primeira Guerra teve início e ela foi convocada pela Cruz Vermelha Britânica para servir como enfermeira. Trabalhando a bordo do HMHS Britannic, que havia sido transformado em um navio hospital, Violet estava, mais uma vez, com um destino predestinado.
Em 1916, o Britannic afundou no Mar Egeu em uma catástrofe que durou 55 minutos, devido a uma explosão causada por uma mina submarina. O desastre resultou na morte de 30 pessoas, mas Jessop não era uma delas. Para se salvar, ela precisou saltar de um barco salva-vidas, no pulo sofreu um traumatismo craniano, e ainda saiu com vida.
Quatro anos depois, ela estava de volta ao posto, na White Star Line trabalhando ainda mais uma vez no Olympic, que depois do primeiro incidente não voltou a sofrer problemas graves e foi o único dos três irmãos que não terminou embaixo do mar. Em 1926 ela trabalhou para a Red Star Line voltando alguns anos depois ao primeiro lugar de trabalho, a Royal Mail Line.
Em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, ela deixou os navios por uma vaga como secretária. Mas, em 1948, com 61 anos de idade, voltou a navegar por mais dois anos até se aposentar, em 1950. Jessop viveu até 1971, quando uma insuficiência cardíaca conseguiu aquilo que três desastres em alto mar não conseguiram. Ela tinha 84 anos.
As probabilidades de estar em duas das maiores catástrofes náuticas da história parecem remotas. E ainda mais remota a possibilidade de alguém conseguir sobreviver a ambos os eventos e ainda assim seguir navegando.