19092021

O Fim Melancólico da Mansão Lynnewood

Lynnewood Hall é uma obra-prima espetacular do Renascimento Neoclássico e é considerada uma das maiores mansões da Era Dourada que ainda sobrevive nos Estados Unidos. A imponente casa projetada pelo arquiteto Horace Trumbauer já foi uma das melhores casas da Pensilvânia, mas devido à sua história complexa e triste, a magnífica casa agora está fechada e em estado de abandono.

Mas, o que isso tem a ver com a história do Titanic?

A Lynnewood Hall foi construída entre 1898 e 1900 para a família do magnata Peter Arrell Browne Widener, colecionador de arte e um investidor do malfadado RMS Titanic. Peter se tornou amigo e parceiro de negócios do JP Morgan, trabalhando em conjunto na indústria do aço sendo acionista de 20% na International Mercantile Marine Company, famosa pela construção do transatlântico.

Naquela época, Peter Widener tinha 78 anos e recusou a oferta de viajar na viagem inaugural do Titanic. Em vez disso, ele enviou seu filho George, seu neto Harry e sua nora Eleanor que tinham como objetivo encontrar um chef de cozinha para o novo hotel de George, localizado também na Filadélfia. George era o herdeiro de Lynnewood Hall e seguiu seu pai nos negócios e assumiria o comando assim que Peter renunciasse. Contudo, não poderiam imaginar que seria uma viagem sem volta.

À bordo do Titanic, George ofereceu vários jantares em homenagem a seu pai. O pródigo evento contou inclusive com a presença do capitão EJ Smith. Em 14 de abril de 1912, quatro dias após o início da viagem, o Titanic bateu em um iceberg. Infelizmente, George e Harry perderam a vida quando o navio afundou no oceano Atlântico. Eleanor sobreviveu, embarcando em um dos botes salva-vidas famosos e limitados do Titanic. Depois de chegar a Nova York, Eleanor Widener pegou um trem particular de volta para a Filadélfia e se dedicou ao trabalho de caridade após perder seu marido e filho para o mar.

Em 6 de novembro de 1915, depois de lutar contra uma longa doença, que alguns especularam ter sido causada pelo pesar de perder seu filho mais velho e neto, o milionário Peter AB Widener faleceu aos 80 anos em Lynnewood Hall. No momento de sua morte, a mansão valia mais de $ 100 milhões (equivalente a quase $ 2 bilhões hoje). Depois, a casa se tornou lar de seu filho caçula, Joseph, até 1943.

Em 1952, o pastor macarthista Carl McIntire transformou a propriedade em uma escola religiosa até que um banco tomou posse do imóvel em 1992 por dívidas. Atualmente, a dona da casa é a Primeira Igreja Coreana de Nova York. No entanto, a mansão não recebe reparos ou manutenção há anos devido aos altos custos. Segundo o fotógrafo e explorador urbano Leland Kent, parte das mobílias e obras de arte foram vendidas pelo pastor durante o período de dificuldades financeiras. Em seu auge, a residência abrigou obras originais de Vermeer, Rembrandt, Raphael, El Greco, Degas, Manet, entre outros.

Em 2014, a mansão Lynnewood foi avaliada em 20 milhões de dólares, mas, devido à ausência de reformas, o valor foi diminuindo, até que em 2019 chegou a 11 milhões.

Toda essa história nos faz refletir sobre o quanto nos tornamos frágeis e vulneráveis diante da morte e não importa quanto você carrega na sua conta bancária, pois nada poderá trazer nossos entes queridos de volta. Independente da classe social, a história do Titanic nos traz mais uma lição: A dor do luto é a mesma para todos.

Referências:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/angustias-do-titanic-a-curiosa-historia-da-mansao-de-110-quartos-abandonada-nos-eua.phtml
https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/09/09/mansao-abandonada-de-r-133-bilhao-tem-lacos-com-a-tragedia-do-titanic.htm

Lynnewood Hall

090821

Sobrevivente do Titanic, Violet Jessop

Enquanto estava escovando os meus dentes, tentando me livrar do óleo e da poeira da cortiça, ouvi uma batida na porta. A assistente da enfermeira-chefe olhou para dentro da cabina. Ela evidentemente pensou que seria desnecessário congratular-se comigo por eu estar viva, ou ainda indagar se eu estava machucada. Ao contrário, perguntou, ( Onde foi que você conseguiu a escova de dentes ? ) Eu respondi num tom de voz baixo receando que com o esforço despedindo poderia vomitar. ( Eu trouxe comigo ). O seu olhar de assombro e desconfiança levou-me a pensar se ela imaginava que eu estava aliada com o inimigo e tinha preparado alguns pertences para um final de semana, antes de entrar no bote salva-vidas.

Este trecho compõe a sinopse do livro ( Titanic Survivor The Memoirs of Violet Jessop ) ou ( Sobrevivente do Titanic Violet Jessop ), traduzido para o português do autor John Maxtone-Graham. A obra é uma coleção de memórias de Violet Jessop, a comissária de bordo que estava presente na colisão do Olympic com o cruzador Hawke e que sobreviveu aos naufrágios do Titanic e do Britannic, todos da White Star Line.

Violet escreveu suas memórias em 1934 e John Maxtone-Graham as editou e comentou para publicação do livro. Historiador marítimo, ele é autor de muitos clássicos sobre navios de passageiros e teve a oportunidade de entrevistar Violet em 1970, enquanto pesquisava detalhes para outro livro de sua autoria chamado ( The Only Way to Cross ). A ex-comissária morreu um ano mais tarde, deixando os manuscritos para suas sobrinhas. Provavelmente se não fosse por John, ninguém jamais conheceria a história fascinante de Violet Jessop que viveu uma vida de viagens incomuns e cheia de aventura.

Sua trama literária é ampla, pois além de testemunhar ocular do afundamento do Titanic e do Britannic, Violet Jessop nos tece histórias intrigantes, Comissárias amigas hilariantes, episódios grotescos nas cabinas, grito às armas na guerra, passageiros difíceis, companheiros de bordos cortejadores, portos exóticos, amor não correspondido e mortes trágicas.

O seu trabalho na companhia transatlântica White Star Line fez com que se tornasse personagem de dois épicos desastres marítimos. Ela foi salva do naufrágio do Titanic porque um oficial a mandou entrar no bote salva-vidas para que os imigrantes que não falava inglês pudessem seguir o seu exemplo. Já no Britannic, ela foi alertada por um de seus colegas de bordo para que embarcasse o mais rápido possível em um dos botes salva-vidas e assim ela o fez, no entanto, ainda precisou lidar com o desespero de quase ser sugada e triturada por uma das hélices do navio. Ao cair na água, foi atingida fortemente na cabeça e só não morreu afogada, pois um dos oficiais retornou para ajuda-la. Violet comenta o terror que foi se deparar com partes de membros ou mesmo órgãos flutuando no mar por conta das hélices que permaneceram funcionando até o momento do naufrágio.

Poucas são as comissárias de bordo que escreveram suas memórias, portanto, a história de vida de Violet Jessop é duplamente valiosa, única no gênero, além de altamente articulada e informativa é contada por alguém que fala com muita propriedade. De sua posição como comissária somos levados aos bastidores da vida da mulher a bordo de mais de cem anos atrás.

Esta é uma leitura obrigatória para todo entusiasta que se aventura em desvendar os mistérios e curiosidades que cerca a tragédia do R.M.S Titanic, não só pela riqueza das memórias transcritas, mas também para darmos mais valor e importância às histórias destes personagens ( coadjuvantes ) que merecem tanto o prestígio quanto a ( Inafundável ) Molly Brown ou mesmo Ida Straus. Certamente Violet Jessop é uma significativa representação dos passageiros da terceira classe e da tripulação em que todos compunham uma história, mas que muitas acabaram sendo ceifadas naquela noite fria de Abril.

010721

Projeto de Dados chamado Titanic Data Set

Um dos aspectos que mais me chamam atenção acerca da história do Titanic é o quanto ela expande ramificações para diversas áreas, pois ele é a própria cápsula do tempo que nos faz viajar para o passado nos mostrando um pouco do contexto histórico daquela época e o quanto a sociedade havia avançado em termos de tecnologia, filosofia, ciência, arte, música, literatura, moda e cultura. Se quiséssemos fazer um recorte desta história, ainda assim uma guarda chuva de possibilidades se abriria sendo possível aprender muito sobre um assunto específico.

E é pensando nessa dimensão interdisciplinar que o Titanic nos proporciona que escrevo hoje a respeito do projeto ( Titanic Data Set ) que exemplifica um pouco do trabalho que exerce um cientista de dados.

Como o próprio nome sugere, este projeto é composto por um conjunto de dados que fornece informações sobre todos os passageiros que estavam a bordo do RMS Titanic quando o malfadado navio afundou em de abril de 1912 após colidir com um iceberg.

Este é um conjunto de dados bastante popularizado entre estudantes de ciência de dados. Com 891 linhas e 12 colunas, ele traz uma combinação de variáveis ​​com base em características pessoais dos passageiros como idade, classe de ingresso no navio e gênero. Ao testar diferentes habilidades de classificação, o cientista de dados consegue prever a sobrevivência dos que estavam a bordo do Titanic em diferentes cenários.

O naufrágio resultou na morte de 1.500 dos 2.224 passageiros e tripulantes e embora houvesse algum elemento de sorte envolvido na sobrevivência, é evidente que alguns grupos de pessoas tinham mais probabilidade de sobreviver do que outros.

Neste desafio, o projeto pede aos usuários que construam um modelo preditivo que responda à pergunta ( Que tipo de pessoa tem mais probabilidade de sobreviver ? ) usando dados de passageiros, ou seja, nome, idade, gênero, classe socioeconômica, etc dos quais contém informações semelhantes, mas não divulga a verdade sobre cada passageiro, pois é seu trabalho prever esses resultados.

Usando os padrões encontrados nos dados, você precisa tentar prever se um passageiro sobreviveu ao naufrágio do Titanic ou não. A pontuação é a porcentagem de passageiros que você prevê corretamente, interessante, não ?

Para participar da competição, é importante assistir ao tutorial de como funciona a plataforma Kaggle ( https://encurtador.com.br/byIJX )e depois acessar ao site ( https://encurtador.com.br/bloKO ) neste último link você também consegue acessar a planilha a qual está disponibilizada os dados coletados.

19042021

Impacto do Titanic Para A Segurança Marítima

Na última quinta feira, no dia 15 de Abril de 2021, uma das maiores e mais conhecida tragédias marítimas completou 109 anos.  O RMS Titanic se tornou um marco na história; antes dele os acidentes eram banais e depois passaram a ter mais importância já que o navio se tornou referência principalmente quando se trata de medidas de segurança. Afinal, a fama que acompanhou o Titanic durante seu período de construção era a de ser um navio livre de qualquer perigo. Tal acontecimento é um fato isolado da navegação visto que na mesma época existiam outros navios transatlânticos, como seus próprios concorrentes navegando na mesma rota do oceano e que não naufragaram.

Importante ressaltar que houve desastres marítimos maiores e mais mortais, porém nenhum ocupou o mesmo lugar na mente popular do navio como símbolo da incapacidade humana de controlar o universo, ainda que em posse da mais avançada tecnologia. Livros e filmes ajudaram a manter o público interessado pela tragédia, no entanto, outro século vai passar sem que saibamos toda a história, pois sempre é possível que surja um novo documento, ou depoimento, ou pesquisa com os restos do navio. Isso é só mais um dos elementos que garantem que o desastre continue sendo tão fascinante.

Como uma das consequências da tragédia, o naufrágio do Titanic foi responsável pelas primeiras mudanças na forma de construção e nas normas de proteção da vida no mar tendo sido catalisador para a adoção em 1914 da primeira Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar ( Safety of Life at Sea, SOLAS ). Com a perda de mais 1.500 pessoas no desastre foram levantadas muitas perguntas sobre as normas de segurança em vigor e o Governo do Reino Unido propôs a realização de uma conferência a qual contou com a presença de representantes de 13 países para elaborar regulamentos internacionais que lidam com a segurança da navegação de todos os navios mercantes.

A Convenção tem por propósito estabelecer os padrões mínimos para a construção de navios, para a dotação de equipamentos de segurança e proteção para os procedimentos de emergência. Em resposta a grandes desastres, os países mudaram para a internacionalização da lei e posteriormente outras Conferências foram realizadas a fim de estabelecer não só regras de seguranças universais, mas a prevenção da poluição por navios no mar.

Desta forma, todos os navios construídos após a tragédia do Titanic deveriam ter botes salva vidas para todos a bordo, os telegrafistas teriam de trabalhar durante a noite ( na época, os operadores de rádio trabalhavam 16 horas e não tinham substitutos ), exercícios de emergência com os passageiros deveriam ser realizados e a Patrulha Internacional do Gelo foi criada em 1913 nos Estados Unidos para atuar no Atlântico Norte sob supervisão da Guarda Costeira, uma organização que monitora a posição de icebergs para garantir a segurança das embarcações.

Em uma das Conferências realizada em 1948, foi adotada pelas Nações Unidas a Organização Marítima Internacional que tem como objetivo instituir um sistema de colaboração entre governos no que se refere a questões técnicas que interessam à navegação comercial internacional, bem como encorajar a adoção geral de normas relativas à segurança marítima e à eficácia da navegação.

A segurança marítima melhorou muito desde o naufrágio do Titanic, embora cada desastre marítimo subsequente seja outra chamada para melhoramentos na segurança. Avanços na tecnologia e regulação têm ajudado, mas como a indústria continua a crescer, novos riscos continuam a surgir.

A Organização Marítima Internacional (IMO) celebrou, em 2012, na sede em Londres, o Dia Marítimo Mundial com o tema ( IMO Cem anos depois do Titanic ), em uma abordagem sobre a segurança da vida no mar. Em regra, essa comemoração é uma forma de lembrar a importância da segurança na navegação marítima e acontece todos os anos, com o objetivo de realizar um balanço da evolução da segurança marítima, analisar as áreas mais deficientes e criar um programa de prioridades para os próximos anos.

Coincidência ou não, o naufrágio do Costa Concordia veio ao encontro deste evento. Com a ocorrência, o destino lançou um alerta para a comunidade marítima internacional, organizações internacionais, nações e sociedade civil, de que passados cem anos, o ser humano ainda tem muito que aprender com os próprios erros.

O Titanic jaz a 3.657 metros de profundidade. Não há luz. É um lugar tranquilo, pacífico e apropriado ao descanso dos restos da maior tragédia dos mares. Que assim seja, e que Deus abençoe as almas que encontramos. Robert Ballard

23032021

Como Manter Viva A Memória Do Titanic

Nas últimas semanas, sem querer ( ou não ), acabei instigando a curiosidade do meu sobrinho de apenas três anos, pela história do Titanic. Tudo começou quando apresentei a ele o livro ( A Viagem do Titanic, Um navio inesquecível, uma tragédia histórica ) de Duncan Crosbie. O livro é ricamente ilustrado com pop-ups e reproduções de documentos do ano de 1912 e conta a história do navio sob o olhar do menino Jack, que escreveu todas as suas impressões de sua grane aventura em um diário ficcional. De fato, uma opção interessante para as crianças.

É claro que brincadeira vai, brincadeira vem e decidi mostrar a ele algumas cenas do filme Titanic de James Cameron ( 1997 ). Para a minha surpresa, ele ficou ainda mais empolgado e já está até aprendendo a acompanhar a música tema My Heart Will Go On interpretada por Celine Dion. Além disso, ele faz questão de pontuar diversas vezes que não gosta da cena em que o navio bate no iceberg e já me fez perguntas um tanto intrigantes, como por exemplo, ( Por que o Titanic afundou? ) ou ( Por que não tiram o Titanic do fundo do mar ? )

Em meio a essas vivências com alguém tão jovem que pode não ter a oportunidade de assistir a documentários ou mesmo contemplar imagens e gravações dos futuros destroços submersos, me peguei refletindo sobre esta questão, ( O que podemos fazer para manter viva a memória do Titanic para as próximas gerações ? )

O Titanic se encontra há quase quatro mil quilômetros de profundidade estando submetido a condições extremas como pouca luz e alta pressão o que acelerou bastante seu processo de degradação. É sabido também que o que restou dos destroços, está sendo destruído por fortes correntes oceânicas, pela corrosão salina e por bactérias que consome metais.

A icônica banheira do quarto, fotografada nas primeiras expedições em 1985, por exemplo, já não existe mais devido a esses processos de desaparecimento.

O naufrágio em si é a única testemunha que temos atualmente do desastre do Titanic, disse Robert Blyth, curador do National Maritime Museum, em Greenwich, na Inglaterra a uma entrevista à BBC, ressaltando como é lamentoso o futuro que nos aguarda sem os resquícios do que um dia foi sinônimo de grandeza e exuberância.

Ainda não há como prever exatamente em quanto tempo o Titanic irá desaparecer por completo, isso pode variar de vinte a cem anos. Tudo depende das alterações ou não das condições as quais o navio está submetido.  De qualquer forma, devemos nos acostumar com a ideia de que os restos da embarcação devem sumir nos próximos anos.

Assim, acredito que uma das formas de manter viva essa memória seja através desses diferentes tipos de conteúdos os quais encontramos para todas as idades como livros, filmes, documentários, animações ou mesmo diversas referências presentes em gibis, séries, vídeos ou até mesmo memes que circulam pelas redes sociais.

Além disso, o que de fato irá comprovar a existência do Titanic após o seu desaparecimento, fisicamente falando, será o trabalho de preservação e conservação dos artefatos encontrados em seu sítio arqueológico. Hoje, muitos deles estão expostos em diversos museus pelo mundo como o Titanic Belfast na Irlanda do Norte, o Titanic Museum Attraction e o Titanic, The Artifact Exhibition Las Vegas, ambos nos Estados Unidos.

Os museus tendo esse importante papel de adquirir, conservar, investigar, expor e divulgar os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite da sociedade, certamente irão garantir que os objetos encontrados em meio aos destroços do Titanic sejam admirados pelos futuros entusiastas e curiosos por essa história que continua gerando fascínio todos os anos. É evidente que este é um tipo de entretenimento não acessível para a maioria das pessoas, o que futuramente poderá se tornar uma importante pauta entre os interessados em também manter esta memória.

Em suma, não há dúvidas que o trabalho minucioso de James Cameron na produção de Titanic, um marco do cinema, irá para sempre estimular a curiosidade do público para saber mais o que há por trás dessa tragédia ainda cercada por tantos mistérios. Digo isso levando em consideração minha própria experiência de vida, que começou com a minha irmã mais velha me apresentando ao filme quando eu tinha oito anos de idade e hoje, tenho a oportunidade de poder fazer o mesmo com o meu sobrinho. E mesmo que ele não se torne um entusiasta tão fissurado quanto eu, para mim é suficiente que ele saiba que algum dia existiu um navio chamado RMS Titanic que afundou após colidir com um iceberg.

12032021

O Naufrágio do Titanic Uma Metáfora Para A Sociedade

Antes da eclosão de duas guerras mundiais, os avanços tecnológicos alimentavam promessas de um futuro sonhador para a espécie humana. O Titanic representava um desses marcos do domínio do homem sobre a natureza na era industrial.

No entanto, devido ao seu destino trágico, sua história permanece viva no imaginário popular, sendo uma parte dela em decorrência do famoso filme de James Cameron de 1997, mas que são envolvidas somente até as últimas cenas, enquanto outra parte, a dos entusiastas e curiosos, que provavelmente sempre se questionaram como um navio, símbolo da tecnologia no século XX, afundou em sua viagem inaugural ?

Desde que seus destroços foram encontrados em 1985 pela equipe do oceanógrafo Robert Ballard, os pesquisadores ficaram cada vez mais instigados a tentarem compreender o que levou o maior navio do mundo a colidir com o iceberg e afundar naquela noite fria de abril de 1912.

Graças a esse mistério que ainda hoje envolve a tragédia, temos acesso a diversos documentários ou mesmo as produções cinematográficas que revelam uma série de circunstâncias que se combinaram de forma trágica desde os detalhes equivocados previstos na planta do Titanic até a noite do naufrágio.

A partir de análises realizadas no casco submerso, diversos documentos oficiais e relatos dos sobreviventes, tudo indica que o naufrágio poderia ter sido evitado, sendo a principal causa da tragédia, a falha humana. Porém, esta não foi protagonizada por apenas um ou dois indivíduos, mas um conjunto de erros dos quais seus respectivos responsáveis não deram importância às ameaças de segurança. A confiança imposta numa máquina superou a ética daqueles que deveriam ter tido atitudes e não tiveram. 

A questão é que tudo começa muito antes; antes da White Star Line ser completamente absolvida pelo Inquérito Britânico, antes dos vigias estarem despreparados trabalhando sem binóculos, antes de o Capitão Smith ignorar diversos alertas de icebergs, antes da supérflua inspeção que mesmo com um incêndio acontecendo em uma das carvoeiras e com número de botes salva-vidas insuficientes permitiu que a viagem acontecesse, antes de William Pirrie, Thomas Andrews e Alexander Calisle usarem matéria-prima barata para a construção do casco devido à carência de rebites de adequados, dentre essas e diversas outras falhas, tudo começa com a razão pela qual os navios da Classe Olympic foram idealizados: Devido à concorrência entre duas linhas marítimas, a Cunard Line e a White Star Line.

Um artigo publicado em 18 de abril de 1912 no jornal judaico americano Forward, quatro dias depois do naufrágio, resume a angústia do mundo ocidental, às vésperas da Primeira Guerra, diante do avanço do capitalismo industrial. Para o articulista Ab Cahan, a culpa pelo naufrágio ( é do espírito apressado do capitalismo selvagem ), que busca a acumulação desenfreada de riqueza no menor espaço de tempo possível. ( A vida sob o capitalismo emula essa competição ), lamenta o autor, ( Tempo é dinheiro. E dinheiro é tudo. Aparentemente, economizar tempo é mais importante que salvar vidas ). O texto termina com uma reflexão sobre os limites do capitalismo ( O Titanic é um símbolo para toda a humanidade. Somos todos passageiros ).  

O Titanic reuniu muito luxo, porém em contrapartida algumas medidas de segurança. Diante de tanta lei descumprida e avisos ignorados, não é equívoco dizer que o destino do navio era inevitável. Mesmo passados cem anos, é evidente que a arrogância humana continua a mesma. Segundo o filósofo Jean-Jacques Rousseau ( o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe ), essa frase nos leva a crer que o ser humano precisa se adaptar à realidade em que vive para atender às expectativas a fim de alcançar o sucesso, e às vezes seria contra sua verdadeira essência, mas acaba se tornando uma necessidade. As leis podem ser aprimoradas, mas não podem deter aquele sentimento ( indestrutível ) que o ser humano carrega.

Não é à toa que o Titanic frequentemente aparece representado por memes, vídeo e demais representações cômicas para ilustrar diversas situações que ocorrem no Brasil e no mundo. Afinal, quantas catástrofes poderiam ter sido evitadas se o ser humano aceitasse minimamente a possibilidade de dar errado ? Quantas vezes desconsideramos avisos e mais avisos e continuamos tratando uma pandemia como se fosse um ( simples resfriado ) ?

Por fim, em tempos de paz, creio que nenhuma tragédia foi tão enigmática, traumática e tempestuosa para as vítimas e para o mundo como foi o naufrágio do Titanic que mesmo depois de cem anos ainda desperta nosso interesse e curiosidade. Outro século vai passar sem que saibamos toda a história, pois sempre é possível que surja um novo documento, ou depoimento, ou pesquisa com os restos do navio. Isso é só um dos elementos que garantem que o desastre continue sendo tão fascinante.

10032021

O Menino Da Foto, Conheça A História De Ned Parfett

Após o naufrágio do Titanic, os escritórios da White Star Line na Cockspur Street se tornaram o centro das atenções em Londres para as pessoas que buscavam notícias dos desastres. Uma das fotos mais icônicas tiradas após a tragédia mostra um jovem jornaleiro com um maço de jornais e um pôster do Evening News anunciando Titanic Disaster Great Loss of Life ( Desastre do Titanic Grande perda de vidas ) e uma pequena multidão parada na calçada do lado de fora da Oceanic House com curiosos perplexos.

O jornaleiro era Edward John ( Ned ) Parfett e no ano da tragédia, ele tinha 16 anos. O jovem começou a trabalhar na construção de um prédio na área de Londres, mas depois de se ferir, ele passou a trabalhar como jornaleiro. Enquanto realizava essa tarefa, ele foi brilhantemente ilustrado nas ruas do centro de Londres exibindo o pôster que noticiava o naufrágio do RMS Titanic, ocorrido no dia anterior ficando eternizado como ( o menino da foto ).

Seis anos e meio depois que esta foto comovente foi tirada, Ned foi morto durante um bombardeio alemão enquanto servia ao exército britânico na França. Ele tinha apenas 22 anos. De acordo com seu sobrinho-neto Dominic Walsh, o jovem Ned alistou-se na Artilharia Real em 1916, servindo primeiro como mensageiro antes de ser transferido para tarefas de reconhecimento. Tamanha foi sua contribuição que recebeu a Medalha Militar por sua conduta durante uma série de missões na frente de batalha. Após sua morte, o oficial que recomendou Ned para um reconhecimento especial escreveu a um de seus irmãos.

Em muitas ocasiões, ele me acompanhou durante os bombardeios severos e eu sempre coloquei a maior confiança nele.

Ned Parfett foi enterrado no cemitério de guerra britânico em Verchain-Maugré, na França.

Quanto ao destino do prédio, após a fusão da Cunard Line e da White Star Line em 1934, a empresa recém-formada consolidou seu espaço de escritórios em Londres e se desfez da Oceanic House. Posteriormente, o edifício passou por uma série de utilizações diferentes. Em abril de 1936, a Oceanic House tornou-se o lar de uma filial do Barclays Bank durante a Segunda Guerra Mundial e depois da década de 1960. Na década de 1970, os andares superiores abrigavam a Embaixada da África do Sul e, mais tarde, um restaurante americano, o Texas Embassy, mas que fechou em 2012.

Em 2015 começaram as obras de conversão dos andares superiores em seis apartamentos de luxo e uma cobertura duplex. O acabamento dos apartamentos foi pensado para relembrar ( o espírito de luxo abundante que era sinônimo dos transatlânticos das antigas companhias marítimas ). A reforma foi concluída em 2017; o menor apartamento foi colocado no mercado por £ 4,35 milhões e a cobertura por £ 19,5 milhões.

09032021

Viola Jessop Especial Dia Internacional da Mulher

Violet Jessop nasceu no dia 2 de outubro de 1887 perto de Bahía Blanca, no sul da província de Buenos Aires. Seus pais eram irlandeses que chegaram à Argentina em uma onda imigratória no final do século XIX. Após o falecimento de seu pai, a família foi morar na Inglaterra onde Violet conseguiu trabalho como camareira na companhia de navegação Royal Mail Line.

Sua primeira viagem foi a bordo do RMS Olympic, na época, o maior transatlântico que existia. No percurso, a embarcação colidiu com o navio de guerra britânico HMS Hawke, em 20 de setembro de 1911. Apesar do acidente, o Olympic conseguiu terminar o trajeto e voltou ao porto. Sobre o quase naufrágio, Jessop não comentou a experiência em seu livro de memórias, Sobrevivente Do Titanic, lançado em 1998.

No ano posterior, Violet foi escalada para trabalhar no icônico Titanic. O que era para ser uma das maiores viagens da história, por todas as expectativas criadas em torno da enorme construção, acabou sendo um caso de vida ou morte para a camareira.

Jessop contou em sua obra que enquanto o navio afundava ela foi usada de exemplo de um bom comportamento para os que não falavam em inglês pela equipe de segurança.

Me mandaram ir para o convés. Os passageiros passeavam tranquilos. Eu e as outras camareiras observamos como as mulheres se agarravam a seus maridos antes de serem colocadas nos botes salva vidas com os filhos “, afirmou.

” Algum tempo depois, um oficial ordenou que nós entrássemos no bote número 16 para mostrar às mulheres que era seguro “.

Antes que o Titanic fosse completamente engolido pelo oceano, a camareira foi colocada em um dos botes salva-vidas, e um e um bebê desconhecido foi entregue em seus braços.

Passou a madrugada à deriva no mar, até que, na manhã seguinte, o RMS Carpathia a resgatou. Já nesta embarcação, uma mulher que ela assumiu ser a mãe da criança, levou-a embora sem dizer nada. 

Sua vida seguiu tranquila, até que a Primeira Guerra teve início e ela foi convocada pela Cruz Vermelha Britânica para servir como enfermeira. Trabalhando a bordo do HMHS Britannic, que havia sido transformado em um navio hospital, Violet estava, mais uma vez, com um destino predestinado.

Em 1916, o Britannic afundou no Mar Egeu em uma catástrofe que durou 55 minutos, devido a uma explosão causada por uma mina submarina. O desastre resultou na morte de 30 pessoas, mas Jessop não era uma delas. Para se salvar, ela precisou saltar de um barco salva-vidas, no pulo sofreu um traumatismo craniano, e ainda saiu com vida.

Quatro anos depois, ela estava de volta ao posto, na White Star Line trabalhando ainda mais uma vez no Olympic, que depois do primeiro incidente não voltou a sofrer problemas graves e foi o único dos três irmãos que não terminou embaixo do mar. Em 1926 ela trabalhou para a Red Star Line voltando alguns anos depois ao primeiro lugar de trabalho, a Royal Mail Line.

Em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial, ela deixou os navios por uma vaga como secretária. Mas, em 1948, com 61 anos de idade, voltou a navegar por mais dois anos até se aposentar, em 1950. Jessop viveu até 1971, quando uma insuficiência cardíaca conseguiu aquilo que três desastres em alto mar não conseguiram. Ela tinha 84 anos.

As probabilidades de estar em duas das maiores catástrofes náuticas da história parecem remotas. E ainda mais remota a possibilidade de alguém conseguir sobreviver a ambos os eventos e ainda assim seguir navegando.

2030321

Farol do Memorial do Titanic um Marco Histórico

Em 15 de Abril de 1913, um ano após o naufrágio do RMS Titanic, o Titanic Memorial Lighthouse de 18 metros de altura foi erguido no topo do Seamen’s Church Institute em Nova York em memória às 1.500 vítimas daquela noite. O Instituto é afiliado a Igreja Episcopal, a maior e mais abrangente agência de serviços aos marinheiros da América do Norte.

O plano para construir uma torre de farol foi anunciado com a arrecadação de fundos pública realizada pela Seamens Benefit Society, patrocinada pela ( Inafundável ) Margaret Brown, que insistiu muito para que este feito se concretizasse. Muitas famílias do Titanic apoiaram e benfeitores, incluindo Guggenheim, Straus, Carnegie, Pierpont Morgan, Rockefeller, Harriman, Vanderbilt, DuBois, Julliard e Frick.

O Titanic Memorial Lighthouse exibia uma luz verde fixa que podia ser vista em todo o porto de Nova York e até Sandy Hook. Além de uma lembrança às vítimas da tragédia, o farol se tornou um marcador do tempo para os marinheiros tendo salvado muitas vidas. Sua ( bola do tempo ) caía exatamente ao meio-dia, diariamente, para que os capitães e pilotos ajustassem os cronômetros de seus navios.

O farol permaneceu brilhando sua luz verde e deixando cair sua bola do meio-dia por décadas até que em julho de 1968 o Instituto mudou para novos escritórios e o antigo edifício foi programado para demolição.

O Titanic Memorial Lighthouse foi então doado para o Museu South Street Seaport e a torre foi erguida no parque na Pearl Street em Maio de 1976, sua localização atual, onde turistas e os nova-iorquinos param ocasionalmente para ler a placa de bronze e perceber seu propósito original, nacional de Locais Históricos é o primeiro passo. Por este motivo que em 2020, os descendentes de J. Bruce Ismay e os descendentes de Margaret Molly Brown pediram a restauração do farol. Assim, a Friends of the Titanic Lighthouse Restoration foi formada para reformar e reacender o farol antes de 15 de abril de 2022, 110º aniversário do naufrágio. O grupo também planeja nomear o farol para o Registro Nacional de Locais Históricos e retornar a bola do tempo à operação, o que o tornaria a única bola do tempo operacional nos Estados Unidos, a petição está disponível em ( encurtador.com.br/hivIZ ), assine e colabore com este projeto.